domingo, 16 de maio de 2010

O sonho

Hoje sonhei com meu pai. Estava na casa de Coqueiros, onde vivi até os 17 anos e que até hoje povoa meus sonhos caseiros. Era uma festa e eu tinha que arrumar tudo, fazer a comida e receber as pessoas. Os que deveriam me ajudar não o faziam e, ao contrário, criavam mais confusão. Como deixar uma lasanha integral desmantelar no microondas sujando tudo irremediavelmente. Os personagens são confusos, apenas eu e meu pai estamos identificados. Eu chorando a lazanha derramada, e ele assegurando-me que isso não é um problema. Mais, confirmando que eu tenho todo o direito de ficar bem chateada com os outros a minha volta e prometendo que ia falar com as pessoas. Engraçado como mesmo após oito anos de sua morte ele me tranquiliza.

quarta-feira, 12 de maio de 2010

Sinais

A gente percebe que não está lá muito bem da bola quando em uma noite fria de outono, depois de horas no trânsito, tendo milhões de coisas para fazer ainda, resolvemos verificar a caixa de spam. E nos dar ao trabalho de responder para um spam truqueiro, desses "Banco do Brasil pede que recadastre sua senha de 4 dígitos" algo como: HAHAHAHAHA E TEM GENTE QUE CAI NESSA? Pode até ser indício de bom humor, mas que é sinal de problemas na cachola, ah, isso é.

segunda-feira, 10 de maio de 2010

Ainda de luto, mas filosofando

Ando meio ausente do blog não por falta de assunto. Mas por falta de vontade. E por não querer ficar monotemática, dividindo meu luto instalado. Bom, mas estou tentando sair do luto e portanto volto a escrever. Ainda sobre a perda, mas desta feita mais reflexivamente.
Ao completar um mês da morte da Vanessa caí doente. Não é preciso ser psicanalista como ela para entender o porquê. Mas como o psicossomático é real, fui ao médico. Saí com requisições para mais exames do que consigo fazer e com uma conversa interessante. Meu médico é profunda e convictamente alopático. Narrando para ele o que tinha acontecido e como andava meu estado de espírito, disse-me: "ficar de luto é normal nessas situações. Mas se persistir a depressão, digamos por mais de três, quatro semanas, podemos tratar."
A rigor eu não tenho nada contra tratar a depressão com auxílio de medicamentos, desde que seja necessário. O excesso sempre me pareceu tentar não olhar para o buraco negro da existência, que ficará lá sempre à espera e à espreita. Até que aprendamos a conviver com ele, o que demanda um longo e nem sempre frutífero processo de autoconhecimento e crescimento (que não se consegue tomando nada especialmente). Obviamente que o necessário é a medida de cada um. No meu caso, após pensar no assunto (e, confesso, ficar seriamente tentada a pedir um prozaquinho) achei melhor não. Por vários motivos, o maior dele a memória de minha amiga. Ela, psicanalista de carteirinha, com certeza não aprovaria que eu depois de três ou quatro semanas de luto resolvesse "curar-me". Porque não se trata de cura, na verdade. Trata-se de gerenciar a vida a partir das perdas, que nos acompanham sempre. E o luto é isso, além de ser também medida da relação. Não é possível perder alguém que se ama e isso não significar quase nada na vida em geral. Pois bem. Um mês e uma semana após eu estou aqui. Gerenciando. Ainda de luto, mas caminhando. Em paz com minha dor e com meu trajeto.