segunda-feira, 18 de abril de 2011

Irmãs

Querida amiga
Hoje recebi por e-mail uma daquelas apresentações em slides sobre sentimentos, etc. Geralmente elas são bem piegas e esta não escapou. Mas quem mandou foi a Taty, minha amiga mais antiga. Nos conhecemos quando tínhamos três anos e por isso eu só lembro da roda do carro e das pernas do pai dela. E daquela menininha com cabelinho de milho e botinhas brancas. Minha primeira amiga, acho que a primeira pessoa da minha idade com quem travei contato. Então, fiquei muito emocionada dela ter me colocado no rol das suas irmãs -- pois era sobre a amizade feminina a apresentação. E resolvi repassá-la. Foi aí que me dei conta que não poderia repassar para você, que já se foi. E que faz um ano da tua partida. É claro que eu sabia disso. Como explicar minha tristeza maior do que o rotineiro nesse mês? Como entender que a Páscoa para mim deixou de parecer recomeço e virou término? Faz um ano e eu sinto muito tua falta. A leveza para tratar os problemas alheios, mesmo que te faltasse quando era para tratar dos teus. E teu jeito non sense de se colocar na vida. Lembra como nos conhecemos? Eu estava almoçando no Centro de Convivência da UFSC e você se apresentou dizendo que era a Vanessa, que estagiava na Colônia Santana e que tinha um louquinho (não eramos politicamente corretos nessa época) que adorava nós duas: você pelas pernas e eu pela inteligência. Bastou isso e ficamos amigas para sempre. Hoje, pensando bem, acho que o louquinho não foi muito justo, nem com a tua inteligência, nem com as minhas pernas. E depois disso, tantas coisas divididas e compartilhadas. Pois é. Mandei a apresentação para várias amigas, irmãs. Mas faltou você, querida.

sexta-feira, 15 de abril de 2011

O objeto

Existe por aí um objeto de estudo me rondando. Eu, que não acreditava na imanência do objeto, sou obrigada a repensar a premissa. Ele está me sondando faz já um tempo. Em um tipo de aproximação cautelosa, geralmente se apresenta meio disforme, quase uma névoa. Mas às vezes, mesmo que rapidamente, aparece em quase sua complexidade. Daí consigo entrever rasgos sobre o leitor e seu suposto contrato com o texto. Um pouquinho aqui e ali da relação jornalismo e verdade, quase como pano de fundo, porque na frente estão os dispositivos de leitura, apreensão. Outras vezes, esses elementos são a primeira camada, coberta por perguntas sobre a documentação audiovisual, a indexação do documentário, o fator indicial. Nessas horas meu objeto provoca-me um calafrio: será que ele pretende que eu adentre o universo semiótico? Até que ponto? Apesar de não ser um sentimento muito nobre, nesses momentos tenho ganas de fugir dele. Mas, estou aprendendo isso, os objetos não só existem como exercem um estranho fascínio sobre nós. Por mais que desejemos, não conseguimos nos livrar deles. Então, mesmo sem querer, vejo-me na biblioteca buscando livros e mais livros. Na esperança de que eles possam me ajudar a resolver esse mistério, iluminar meu objeto a ponto de torná-lo nítido. Mas não iluminam, ao contrário. Sinto meu objeto olhando-me ao longe, cada vez maior e menos razoável. E quando estou prestes a me desesperar, de alguma forma ele me consola. Sussurra em meu ouvido que eu não devo me preocupar, que nosso encontro acontecerá, inevitavelmente. Mas não será imediato, fácil. Prazeroso, com certeza, mas também difícil, trabalhoso. E que nosso conhecimento mútuo será um processo. Ele me escolheu, é verdade. Mas ambos precisamos de tempo para termos algum nível de certeza.

quinta-feira, 14 de abril de 2011

Expressões

Existem expressões ótimas vagando por Cunha. Que só descobrimos quando nossas andanças nos levam para os rincões da roça. Como a máxima "quem anda pela cabeça dos outros é piolho", muito bem aplicada para dar conta daquele indivíduo que aceitou sugestão alheia e não se deu propriamente bem. Que foi o caso do motorista da máquina que rodou, mas isso é outra estória que conto dia desses. Uma das que eu mais gosto é a "mesquinha de orelha" (pronuncia-se misquinha de oreia). Refere-se ao cavalo ou égua que tem a mania de mexer a cabeça para impedir de colocar o cabresto. Acho esta ótima e fico pensando em como aplicá-la no contexto urbano. No meu contexto urbano, propriamente. Para começar é bom ficar claro que não deixar colocar o cabresto não é algo bom, sinal de saudavel rebeldia. Ao contrário, é uma balda (teimosia, mau costume - pronuncia-se barda) e como tal desvaloriza o animal. Tem uma situação que me parece adequada para o uso da expressão: naquelas intermináveis reuniões para discutir o futuro do campo da comunicação, quando um professor(a) doutor(a) toma (literalmente) a palavra e impõe seu ponto de vista. E, quando qualquer outra criatura aventura-se a contestar vê seu direito à palavra grosseiramente cortado. Fico pensando que nessas horas bom seria alguém levantar e dizer: "prezado(a) professor(a) doutor(a), por favor não seja misquinho(a) de oreia, respeite o direito do outro, pô!" Mal não faria. P.S. : é claro que eu tenho um misquinho(a) de oreia em mente. Que espero não leia esse blog. Mas caso leia e sinta-se ofendido(a) só posso retrucar com outra expressão, nacionalmente conhecida: se a carapuça serviu...

segunda-feira, 4 de abril de 2011

Universo Feminino

Leio Lucia Guimarães no Estadão. Fala sobre Hillary Clinton, Dilma e outras mulheres. Sobre o poder e a mulher, decisões de estado, formas de fazer política e de não fazer. E eu só consigo pensar quando, ou se, vou arranjar tempo para ir ao cabeleireiro.