sexta-feira, 9 de setembro de 2011

Fim de casamento

Não, não estou me divorciando. Continuo casada e muito feliz com meu casamento. Mas é que existem situações na vida que mesmo sem envolver o contrato matrimonial parecem ser fim de casamento. O processo é o mesmo. Primeiro aquele incômodo constante, aquela sensação de desamor. Depois a impaciência, a enorme dificuldade de relevar aquilo que sempre se relevou. A incapacidade de fazer vista grossa, a irritação inexoravelmente crescente, e a também ascendente capacidade de observar defeitos que não víamos antes. Mesmo com tudo isso, vamos protelando o inevitável. Tapando o sol com a peneira, achando escapes, fazendo coisas bem trabalhosas com a esperança de que,num passe de mágica, ou por conta do esforço, o cristal quebrado se recupere. No fundo, sabemos que é impossível, que não há salvação para essa vida compartilhada. Só que, como estamos presos na zona de conforto dos velhos hábitos, não nos damos ao luxo de aventar a possibilidade da separação, que é um processo bem doloroso. Mas final de casamento só conserta acabando e, com o tempo, a zona de conforto vai minguando, ficando irrisória. Aí, começamos a sentir raiva do outro. O começo da redenção é quando passamos a ter raiva de nós mesmos, por nos colocarmos numa situação tão ruim. Tá certo, o outro é um saco. Mas porque nos desvalorizamos? Porque nos sujeitamos a viver menos do que merecemos? Aí, começamos a sonhar acordados com outra vida. A olhar para os lados, a procurar novos afetos, a imaginar como seria bom se estivéssemos soltos no mundo. Quanto poderíamos fazer, para quantos lugares ir... Nem todos chegam nesse momento. Não é fácil e depende da força do auto-engano. Porém se somos minimamente operantes e com instinto de sobrevivência fora da zona de extinção, chega uma hora em que começamos a pensar em materializar o sonho. E daí para agir é um passo. Tá certo, nem sempre é um passo simples. Na maioria das vezes ficamos inseguros, somos dados a recaídas, as rupturas implicam em desordens de todo o tipo. Mas quase sempre sobrevivemos. E passamos a ter uma vida melhor, sem um fardo. Pois bem, voltando ao início destas linhas: se há vida inteligente depois de um casamento fracassado, quem dirá depois de uma relação menos complexa? Se é possível acabar com casamentos ruins, deve ser possível sair de empregos ruins, amizades ruins, tarefas incômodas, né não?