sábado, 14 de agosto de 2021

Da síndrome de impostora

 Faz tanto tempo que não escrevo no Blog (nem sabia que ainda existiam rs rs) que não lembro bem como é. Mas resolvi voltar, sem pressões por periodicidade ou qualquer coisa do tipo, mais por necessidade mesmo de escrever, falar sobre. 

A pedidos, vou falar um pouco sobre a tal síndrome de impostora. Reza a lenda que o fenômeno do impostor, depois síndrome do impostor, é uma denominação do campo da psicologia e que designa sujeitos que, a despeito de suas habilidades e capacidades, percebem-se como fraudes. Mesmo validados externamente, sentem-se como impostores, como se seus ganhos e conquistas não fossem merecidos. Daí o medo de serem "descobertos" e, de certa forma, denunciados como impostores. Apesar de não serem exclusividade de um gênero, não à toa o fenômeno foi primeiro investigado junto à mulheres com grandes realizações acadêmicas -- que não se sentiam merecedoras destas.

Quando estamos falando em síndrome de impostora, então, e falamos muito sobre isso, estamos indicando essa persistente sensação de inadequação vivida por mulheres quando estão sendo valorizadas. A descrença no merecimento de estar naquele lugar de reconhecimento e prestígio, mesmo que pequeno. O medo de "alguém" descobrir que elas não merecem estar ali. Bem fácil de entender, né? Se as pessoas são criadas para não estarem nos lugares de prestígio e reconhecimento, se são o tempo inteiro desafiadas em suas capacidades, ou não são estimuladas, é bem fácil que duvidem de si mesmas quando estão nestes lugares, por mais apagadinhos que sejam. 

E quanto mais marcadores sociais, mais pesada fica a síndrome. Outro dia ouvi de uma colega negra, num debate, uma frase que expressa isso. Ela comentava que o pai seguidamente a incentivava a alcançar objetivos dizendo "vai lá como se você fosse uma mulher branca". 

Eu acho que todas nós podemos e devemos internalizar estas frases que dão a noção exata de como a segurança interna também se mescla com o lugar em que somos colocadas/os/es no mundo. E daí uma outra (que adapto) que leio em postagens de uma colega me vêm à mente: "vai lá com a segurança de um homem branco cis hetero mediano". 

Mas eu comecei essa postagem porque uma aluna um dia se espantou com o fato de eu ter dito que estava com a tal da síndrome de impostora. Porque, aparentemente, passo uma imagem de muita segurança pessoal. Talvez eu tenha mesmo, costumo brincar que tenho a auto estima preservada. Óbvio que os privilégios que tive e tenho ajudam muito a construir essa auto estima. Mas mesmo ela é atravessada seguidamente por uma série de inseguranças e medos. O que aprendi é que não posso dar muita bola para tudo isso. Que tenho o direito de errar, de pisar na bola, de não chegar lá. Que posso exigir ser avaliada com a régua que avalia os tais homens brancos cis heteros medianos. Aprendi a lidar com a tal síndrome de impostora. Reconhecer quando ela aparece, dizer tipo "Oi, você por aqui? Faz tempo que a gente não se encontra, né? Mas me dá licença, que eu estou mega ocupada agora tentando fazer algo legal, infelizmente não posso te dar atenção, tá?" Deixar essa hóspede indesejável meio de lado. Com o tempo, ela se cansa e vai embora.