terça-feira, 21 de junho de 2011

A raiz do problema

Não está em tudo o que não podemos fazer, mas sim no que desejamos fazer. Eu, por exemplo. Sou querelona. Quero tudo. Abraçar o mundo com as pernas, ficar nos oitenta e nunca nos oito. Trabalhar feito uma louca, em inúmeras frentes. Arrumar a casa compulsivamente (o que eu troco os móveis de lugar já virou piada no bairro). Cozinhar para multidões. Dar aulas, fazer trabalho administrativo, orientar alunos de Iniciação Científica e TCC, fazer pesquisa, publicar, organizar congressos e que tais, participar de eventos científicos, comissões e tudo o mais. E aprender a ser uma internauta mega blaster. Para piorar, quero ter tempo livre para ir ao sítio, ficar com o marido e os filhos, cuidar do cachorro, visitar os amigos, ir ao cinema, fazer ginástica, alimentar-me bem, viajar para Istambul. É óbvio que essa equação não pode fechar. Só de pensar nela começo a ficar com taquicardia e me dá vontade de ter um saco de papel para respirar dentro. Aí me lembro que também adoro assistir televisão (vem daí essas imagens americanas de como lidar com as crises). Eu devia era fazer terapia. Mas onde eu vou arranjar tempo para mais uma atividade?

segunda-feira, 13 de junho de 2011

Resoluções

Na segunda-feira, dia 13 de junho, adotei mais uma das minhas resoluções. Decidi não ser tão complacente com a humanidade. Perdoar menos, reclamar mais. Trabalhar proativamente para melhorar o mundo. Sei lá, resolvi. Às 11:15 comecei a por em prática minha resolução. Liguei para o taxista que devia me levar até o aeroporto e, pasmem! Ele tinha me esquecido. Pediu mil perdões, implorou e conseguiu outro taxista que viria em poucos minutos. Minha natureza afável já se contorcia de pena do sujeito quando lembrei: não, chega de complacência com os erros alheios. Então, coerente, simplesmente balbuciei um ahã e desliguei. Chegou o outro taxista, deixou-me no aeroporto. Tinha tempo de sobra, resolvi comer um sanduíche. Horas na fila. A atendente pegou o pedido e eu falei: quero nota paulista (a gente informa o CPF e o governo retorna algo dos impostos). Veio a nota e eu perguntei: é nota paulista? Ela olhou e falou: ah, não saiu o CPF (óbvio, já que ela não tinha perguntado qual era para adicionar). Normalmente resmungaria e deixaria passar, mas lembrei da minha resolução e falei: pois eu quero a nota paulista. Veio a gerente, desfez a compra e registrou tudo novamente. Eu virei para trás e pedi desculpas para a fila quilométrica, cônscia da minha nova posição no mundo: "eles cobram caro demais aqui para a gente não exigir os direitos que temos". Refeita a compra, fui sentar. Escolhi uma mesa que estava cheia de pratos e comecei a tirá-los e colocar no balcão. A gerente falou: " a sra. não quer sentar naquela outra alí?" que estava limpa. Falei que não, meio sem pensar. No mesmo minuto, veio correndo uma garçonete com um pano, tirou tudo e limpou minha mesa, assustada. Sentei-me e percebi que cumprira minha resolução a risca até aquele momento. O resultado? Em menos de uma manhã já tinha conseguido me transformar numa chata de galocha.

A química, a física e a metafísica

Na real não se precisa muito para refletir sobre a vida. Lavando roupa, por exemplo. Das tarefas domésticas, essa é uma que eu gosto. Lidar com água. E com a química. Claro, lavar roupa é uma tarefa que envolve a química e a física. No meu caso, mais a química. Pq eu me recuso a enfrentar o ato físico de esfregar, torcer, etc. Tudo isso fica a cargo da boa e velha máquina de lavar. Um dos poucos instrumentos tecnológicos da racionalidade capitalista que me faz agradecer pela sociedade mecanizada. Mas, voltando ao ponto: ao me recusar a enfrentar a física em toda sua plenitude, acabo refém da sua irmã gêmea, a química. Agarro-me a uma fé irrestrita na capacidade de ação molecular. Uma crença inabalável em todos os produtos que prometem branco total, que dissolvem a sujeira mais enraizada. Que limpam sem manchar. Que deixam a roupa brilhante. Que tiram o encardido das meias brancas, sem atacar os tecidos, veja bem!. Ou seja, nessa prosaica operação cotidiana passo por séculos de trnasformação do pensamento científico. E, como acontece com boa parte daqueles que se põem a refletir sobre o mundo, desemboco na metafísica. E, confesso, muitas vezes descambo para a fé pura: aquela que faz rezar para que a roupa fique limpa e não estrague com tanta coisa que adiciono ao molho.

quinta-feira, 2 de junho de 2011

Escolhas

Ontem falava com uma amiga no telefone. Eu correndo entre uma aula e outra, querendo que ela fizesse um sacrifício para resolver um problema que outros arranjaram para mim. Odiável, mas necessário. Ela, funcionando desde cedo, tendo dormido tarde e mal chegando em casa. Nós, aos gritos e sussuros nos celulares. De repente, ela me diz que está em casa, segurando um ovo. E me pergunta se eu não fico às vezes incomodada com as escolhas que fazemos. O inusitado da situação, o desconforto do que tentávamos resolver, a correria ou o ovo que ela segurava porque não teve tempo de fazer algo com ele, fez-me pensar. Ela tem razão. Que raios de escolha é essa que fizemos? Dormir tarde, acordar cedo, atender centenas de alunos toda a semana, dar aulas, produzir papers, ir a congressos, participar de uma infinidade de entidades, associações, grupos de pesquisa. Sem tempo para absolutamente nada, a não ser para as outras infinidades de coisas que temos que fazer e aparecem de repente. Ah, mas professor tem dois meses de férias... Qual. Sabe o que professor faz nas férias? Produz trabalhos. Do mesmo jeito que corrige provas nos feriados. Ela simplesmente tem razão. Há algo muito errado ou na escolha, ou na forma como levamos a vida. Ou nas duas coisas. Talvez seja o capitalismo monopolista neoliberal tardio. Ou qualquer coisa assim. O fato é que o social entranha no individual e nossas escolhas parecem, a cada dia que passa, mais pesadas e incompreensíveis.