quinta-feira, 2 de junho de 2011

Escolhas

Ontem falava com uma amiga no telefone. Eu correndo entre uma aula e outra, querendo que ela fizesse um sacrifício para resolver um problema que outros arranjaram para mim. Odiável, mas necessário. Ela, funcionando desde cedo, tendo dormido tarde e mal chegando em casa. Nós, aos gritos e sussuros nos celulares. De repente, ela me diz que está em casa, segurando um ovo. E me pergunta se eu não fico às vezes incomodada com as escolhas que fazemos. O inusitado da situação, o desconforto do que tentávamos resolver, a correria ou o ovo que ela segurava porque não teve tempo de fazer algo com ele, fez-me pensar. Ela tem razão. Que raios de escolha é essa que fizemos? Dormir tarde, acordar cedo, atender centenas de alunos toda a semana, dar aulas, produzir papers, ir a congressos, participar de uma infinidade de entidades, associações, grupos de pesquisa. Sem tempo para absolutamente nada, a não ser para as outras infinidades de coisas que temos que fazer e aparecem de repente. Ah, mas professor tem dois meses de férias... Qual. Sabe o que professor faz nas férias? Produz trabalhos. Do mesmo jeito que corrige provas nos feriados. Ela simplesmente tem razão. Há algo muito errado ou na escolha, ou na forma como levamos a vida. Ou nas duas coisas. Talvez seja o capitalismo monopolista neoliberal tardio. Ou qualquer coisa assim. O fato é que o social entranha no individual e nossas escolhas parecem, a cada dia que passa, mais pesadas e incompreensíveis.

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