quarta-feira, 21 de abril de 2010

Querida amiga

Hoje é feriado e estou aqui em casa, sentindo saudades tuas. Pensando como é inacreditável a idéia de que nunca mais vamos nos ver. Tudo isso pq ontem fui cortar o cabelo e lembrei que conheci o Soho por conta de tuas andanças pela Sampa descolada. Faz uns 26 anos... O Soho estava praticamente se afirmando e vc começou a cortar com a dona. Lembra das histórias e do teu cabelo ponta acima, ponta abaixo, que deu um susto e foi um sucesso? É desta época teu vestido Marilyn Monroe e nossas cintas ligas. Que compramos de farra da feira do Bixiga (pode?) e nunca usamos (eu pelo menos...). Pedi para meu filho resgatar da casa do pai a tua obra em tricô, a única que deves ter feito na tua curta vida. Aquela que era para ser uma ovelhinha e que nós apelidamos de cachorro morto pela semelhança. De repente fiquei com uma vontade imensa de dormir agarrada nele. Sei que será um consolo muito fugaz, mas quem sabe? Liguei pra Grace e conversamos bastante. Ela está num ânimo parecido. Uns dias difíceis, outros melhores. Para ela deve ser pior, pq tua marca é mais evidente. Gozado como as pessoas que amamos ficam inscritas na pele da gente não? E elas se vão e sentimos uma dor quase física. Quando falava com a Grace, lembrei de nossas observações sobre a forma de lidarmos com as adversidades. No fim, somos todos muito imperfeitos, só que alguns têm a imperfeição relevada por tudo que aguentam e fazem. Acho que é o caso da Grace e sua mãe narcísica. Ninguém merece... Bem, fico por aqui, esperando virar o tempo. Não é só em Floripa que a gente espera a frente fria, como tu gostavas de falar. Hoje o dia está muito dolorido. Sei que vai passar, que em algum momento vou me acostumar com tua inexistência vital. E que as lembranças virarão bocados de ternura somente. One day, but not today.

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