segunda-feira, 10 de maio de 2010

Ainda de luto, mas filosofando

Ando meio ausente do blog não por falta de assunto. Mas por falta de vontade. E por não querer ficar monotemática, dividindo meu luto instalado. Bom, mas estou tentando sair do luto e portanto volto a escrever. Ainda sobre a perda, mas desta feita mais reflexivamente.
Ao completar um mês da morte da Vanessa caí doente. Não é preciso ser psicanalista como ela para entender o porquê. Mas como o psicossomático é real, fui ao médico. Saí com requisições para mais exames do que consigo fazer e com uma conversa interessante. Meu médico é profunda e convictamente alopático. Narrando para ele o que tinha acontecido e como andava meu estado de espírito, disse-me: "ficar de luto é normal nessas situações. Mas se persistir a depressão, digamos por mais de três, quatro semanas, podemos tratar."
A rigor eu não tenho nada contra tratar a depressão com auxílio de medicamentos, desde que seja necessário. O excesso sempre me pareceu tentar não olhar para o buraco negro da existência, que ficará lá sempre à espera e à espreita. Até que aprendamos a conviver com ele, o que demanda um longo e nem sempre frutífero processo de autoconhecimento e crescimento (que não se consegue tomando nada especialmente). Obviamente que o necessário é a medida de cada um. No meu caso, após pensar no assunto (e, confesso, ficar seriamente tentada a pedir um prozaquinho) achei melhor não. Por vários motivos, o maior dele a memória de minha amiga. Ela, psicanalista de carteirinha, com certeza não aprovaria que eu depois de três ou quatro semanas de luto resolvesse "curar-me". Porque não se trata de cura, na verdade. Trata-se de gerenciar a vida a partir das perdas, que nos acompanham sempre. E o luto é isso, além de ser também medida da relação. Não é possível perder alguém que se ama e isso não significar quase nada na vida em geral. Pois bem. Um mês e uma semana após eu estou aqui. Gerenciando. Ainda de luto, mas caminhando. Em paz com minha dor e com meu trajeto.

Nenhum comentário:

Postar um comentário