domingo, 28 de novembro de 2010

Começo

O final do ano se aproxima. Mas eu já pulei e estou no começo do outro. Esta época evidencia nossas (ou minhas) ligações com a humanidade mais anterior. Aquela que vive pelos ciclos, em que cada ano é um novo, carregado de possibilidades. A maior delas a possibilidade de se reinventar. Fazer diferente o que não tem mais sentido. Há incontáveis finais de ano tento fazer isso. Deixar de lado o que é peso extra, passar pela vida mais levemente. Verdade que neste tempo todo já limpei bem o sótão, joguei fora inúmeras quinquilharias. Algumas bem pesadas, inclusive. Mas ainda tem tanto espaço preenchido por baboseiras... Pensamentos velhos, emoções quebradas, desejos que não servem mais. Coisas inúteis as quais nos apegamos como quem se apega a e-mails antigos, achando que em algum momento vai relê-los e organizá-los. Mas obviamente nunca vamos fazer isso. E para quê? Tem coisas que só serviam há tempos atrás. Aliás, mesmo há tempos atrás eram estranhas, quase que costeletagrudadanobigode, quem dirá hoje em dia. No final do ano, como um ser cíclico, sou devorada por esta compreensão. E como ser simbólico, começo a jogar fora as coisas que estão sobrando na casa. Se arrumar a cabeça dá trabalho, que tal começar com o entorno? É um ritual e tem também a vantagem de dar um trabalho danado, o que de certa forma deve agradar aos deuses. Assim, nem bem terminou o ano e eu já estou com uma coceira danada, quase a ponto de impedir o foco no presente. Este começo, estou sentindo nos ossos, é daqueles que anunciam a retirada de pesos pesados do meu sótão.

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