quarta-feira, 2 de setembro de 2009

Cadê meu alaúde? Parte 3

A noite era de lua pela metade, mas clara como só o céu de Cunha comporta. Tão clara que se via a sombra dos cavalos e cavaleiros, cansados, mas felizes com a cavalgada. Alguns mais felizes que outros. Como já dito, Silvio bebeu todas as pingas que o padre não viu, apesar das admoestrações de Nino em contrário. Era a primeira vez que ele acompanhava a comitiva. Era o teste para ver não se aguentava o tranco, mas se conseguia aguentar sem a cachaça. Rapaz ficou atrás para controlá-lo, mas ou não teve pulso e não quis contar, ou coisa pior. Tanto que os cavaleiros acabaram formando dois grupos de andança. Nino e os paulistas na frente e os filhos de Cunha atrás. Em certa hora o cavalo de Nino mostrou que, apesar do dito, tinha balda sim. Refugou e exigiu pulso do seu cavaleiro. Virou para trás e juntos, cavalo e cavaleiro, atingiram a amazona que os seguia colada. Esta, por sua vez, montada no tordilho bom de boca, conseguiu safar-se sem muita quebra, apenas com uma escoriação no joelho, por sorte o são. Seguiram os dois grupos pela estrada enluarada. O primeiro esperando o segundo, que insistia em parar de bar em bar. Lá pelas tantas, Rapaz cansou da romaria e alcançou os da frente. Por algum motivo, talvez até compaixão, os paulistas acabaram encurtando o passo, esperando Sílvio. Esse foi seu erro. Nem a lua forte conseguiu impedir os três na retaguarda de duvidarem do caminho. Nino e Rapaz iam longe e atrás só Silvio podia afirmar se a estrada era mesma aquela. Lá pelas tantas, os três pararam, perdidos. E os paulistas descobriram que Silvio não falava mais coisa com coisa. Comendador ainda insistiu, tentou fazer o Silvio ver a razão, mas suas palavras caiam no gelo da noite. Para piorar, a parada se deu em frente ao cemitério das abóboras. E o filho de Cunha, atiçado pelo coisa ruim, propôs que encurtassem o caminho margeando os jazigos. Os paulistas, que dos casos de assombração de Cunha já estavam avisados, recusaram e seguiram caminho.

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