terça-feira, 29 de setembro de 2009

Pierre, aquele que (quase) morreu em vão.

Pierre era um galo bonito, esverdeado. A crista era achatada, como se fosse uma boina. Daí o nome. Deu várias ninhadas e, como acontece no reino animal (que não sofreu a separação edipiana e, consequentemente, o processo civilizatório), passou a sofrer com a provocação dos filhos. Não havia dia sem que Pierre não apanhasse feio, ficasse todo lanhado e sangrando. Apiedados, nós humanitários, resolvemos abatê-lo. Como a maioria dos seres humanos, revestimos esse ato de um complexo ritual. Pierre, em honrarias, seria transformado em um coq au vin. Fiquei encarregada de comprar os apetrechos e configurar a receita. Mas cometi um erro profundo. Motivada pela minha usura (segundo M.) ou pelo meu saudosismo (da época em que consumir vinho que deixava a boca roxa era até chic), comprei um Sangue de Boi. Sim, aquele, que ainda existe nos supermercados. Ao abrir e cheirar o vinho (?), descobri que submeter o falecido Pierre a tal condimento seria antes que uma justa homenagem, uma afronta. O que fazer? Pierre já estava descongelado, preparado para o molho. Improvisei. Temperei com ervas, alho e cachaça (da boa) e transformei o coq au vin em um galo caipira. Afinal, apesar da boina, Pierre nasceu e viveu por essas paragens. Nunca conheceu os ares franceses e foi brevemente feliz em solo caipira. O resultado foi agradável. Uma despedida adequada para um bom galo. Ave Pierre! Nós, que aproveitamos, te saudamos!.

2 comentários:

  1. Pierre viveu bem.
    e morreu melhor ainda.
    piu piu.

    agoooora... sangue de boá? me-poupe-me. é pura heresia, não dá nem pra fazer quentão.

    ResponderExcluir
  2. por curiosidade: quem foi que passou a faca no pierre?

    ResponderExcluir